28.8.09

"Tonigth, live at Paradiso..."

Despedi-me de Amesterdão da melhor forma possível. Sim, num concerto. É a minha essência e não vale a pena negar. Deftones, três anos depois da última vez e oito anos depois de uma sala fechada, estavam agora ali, a muitos poucos metros de mim, na pequena e aconchegante sala aue é o Paradiso, uma antiga igreja transformada em sala de espectáculos. Às 20.30h em ponto - hora de Amesterdão - os acordes rasgados e a bateria pesada envergonharam os vitrais da antiga igreja, agora por cima do palco e eu recordei as músicas e voltei atrás no tempo. Numa altura que foi tão importante para mim e para definir o que sou hoje. Quem diria que aquela música barulhenta e que aquele gajo que actua com as calças descaídas iria ter tanto impacto. O concerto foi muito muito bom, apesar de algumas falhas técnicas no som e nas luzes. Mas quem disse que tinha de ser perfeito? Tinha de ser o que foi. Directo, empolgante, libertador, e acima de tudo, importante para mim. As canções soaram-me quase a novo, como se me estivessem a preparar para um novo começo. Foi uma espécie de epifania. Podia ter acontecido enquanto descansava num banquinho de jardim junto a um dos canais de Amesterdão, na ponte Carlos em Praga ou nas portas de Bradenburgo em Berlim, mas foi ali que aconteceu. Ou melhor, foi ali que culminou. Já depois de tanta coisa vista e sentida em dez dias. E esta, ficou a ser a minha música das férias... 

"You move - like I want to
To see - like your eyes do
We are...downstairs
Where no one can see
New life - break away
Tonight...

I feel like more
Tonight i..."


(parte do 'Digital Bath', Deftones)


Amesterdão

Amesterdão é uma cidade de Verão ou Primavera. Aliás, todas as cidades que visitei nos últimos dez dias são. Pareceu-me diferente da cidade que conheci pela primeira vez em Dezembro do ano passado. Está calor, milhares de gente na rua, uma animação nocturna que parece não acabar, e um sol que bate nos canais ao fim da tarde, deixando aquele efeito de mil luzinhas naturais no ar e na retina. Parei numa das pontes a olhar para o canal, para os barcos a passar e para as pontes em frente. Assim vivia aqui. Sem o frio de Inverno. 

Desta vez Amesterdão pareceu-me diferente. Não foi como turista para ver os museus ou ir aos sítios marcados nos livros. Fui para passear e simplesmente "andar por aí" sem rumo ou com rumo decidido enquanto andávamos. Levou-nos ao terraço inclinado do "Nemo" - o museu de ciência - onde almoçamos e apanhei um ligeiro escaldão; levou-nos ao Red Light District numa noite animada de segunda-feira, onde a prostituição convivia de perto com os turistas de meia idade; levou-nos a um cruzamento de duas pequenas estradas junto a um canal, onde confluiam bicicletas, motas, carros e pessoas sem nunca se tocarem. Como num jogo bem jogado. Levou-nos a virar à esquerda quando antes era para virar à direita e como a Alice ir atrás de um "coelho" qualquer. 

Desta vez Amesterdão pareceu-me diferente. Para melhor. Mas eu também já estava diferente quando lá cheguei... 

25.8.09

Recuperar Berlim

Sábado e domingo conseguimos recuperar Berlim. A chuva deu lugar a dois óptimos dias de sol e noites agradáveis, mas sem aquele calor abrasador do primeiro dia, que nos 'matava' ao primeiro quarteirão a pé. Gosto de Berlim. Gosto muito. Gosto das avenidas largas onde os edifícios imperiais e as catedrais de pedra escura se misturam com os prédios novos de arquitectos de renome como Renzo Piano, Jean Nouvel ou Frank Ghery. Berlim é a cidade que, há já 20 anos (desde que o muro caiu), tem vindo a ser renovada e transformada num exemplo de urbanismo, uma espécie de balão de ensaio para arquitectos, onde tudo se conjuga e onde nos sentimos bem. Onde o 'glamour' de uns anos 20 e 30 se junta com a decadência de uma cidade destruída pela guerra e dividida pelas ideologias e com os tons urbanos e sujos dos 'punks', góticos e 'freaks' que povoam a cidade. 

Sábado destruímos as pernas em cerca de seis quilómetros a pé já com umas pechinchas na mão compradas numa loja ao pé de uma das mais extraordinárias igrejas que conheço. É a igreja que substitui - em necessidade - uma outra que foi destruída na 2ª Guerra Mundial. Em necessidade porque o seu formato geométrico e racional e o Jesus Cristo rectilíneo que a 'guarda' nada tem a ver com a igreja imponente e centenária que ali se encontrava.  Domingo saboreámos o último dia pelas ruas que a maratona do Mundial de Atletismo deixou desertas. Descansámos as pernas entre as igrejas da Gendarmenmarkt, dividimos uma fatia de bolo de chocolate no Check Point Charlie e dissemos adeus a Berlim ao anoitecer, com o céu azul quase escuro, sentados na pedra fria em frente às imponentes portas de Bradenburgo a ouvir um concerto grátis de música clássica. 

Momentos mais tarde, já na noite de um novo dia, apanhámos o comboio para Amesterdão, numa viagem de dez horas. Apetece-me voltar a casa, mas não sinto vontade de regressar....   

21.8.09

Berlim

O comboio de Praga chegou a Berlim às 13.30h. Mais coisa menos coisa. Saio da pequena Praga para a grande metrópole que é Berlim. Os transportes são uma confusão até percebermos a mágica da coisa. Tornam-se simples depois, mas é preciso decorar o amontoado de letras a que chamam de palavras. Ou então andar a pé e ficar com as pernas moídas. Berlim está uma grande confusão. Aos turistas 'normais' juntam-se os que vêm por causa do Mundial de Atletismo. A cidade virou festival e quanto mais me tento libertar-me da ideia de que tenho uma profissão, há milhares de jornalistas por todo o lado com câmaras e microfones em riste; estradas cortadas, preparadas para a maratona; jogos para crianças espalhados por todo o lado e um ecrã gigante ou simples televisão com uma multidão de gente à frente. 

Assim estava Berlim na quinta-feira quando cheguei. Hoje (na sexta) o ambinete já foi diferente, mas por causa da chuva. Aguaceiros durante o dia e a partir do fim da tarde um temporal daqueles que desanima qualquer um. Serviu para mais uma vez me lembrar da mnha profissão - mas agora por boas razões - e entrar à borla na Neue Nationale Galerie e ver uma exposição de quadros e esculturas surrealistas que era quase tão surreal quanto o movimento que estava a representar. Descobri um quadro favorito novo e uma pintura do Kandinsky que tem tudo para NÃO ser dele. 

Berlim tem bolos de chocolate e muffins a mais para chover. Tem avenidas grandes de mais; monumentos e locais históricos em cada esquina, e milhares de praças (grandes e pequenas) com cafés que nos convidam a sentar mesmo que não estejamos cansados, com fome ou com vontade de beber o que seja, para chover a potes e nos obrigar a ficar no mesmo sítio, abrigados, à espera que passe. Ficou uma sensação de, pelo menos, meio dia perdido e uma série de sítios que precisam de ser vistos de novo com apenas dois dias para o fazer.... 

Adeus Praga, Olá Berlim!

20 de Agosto, Quinta-feira, 8.40h, comboio Praga-Berlim. Escrito até parece parte de um poema ou narrativa romântica. Se lhe juntarmos a viagem em si, por entre rios e paisagens verdes onde batia o primeiro sol da manhã quase entramos num livro do Eça de Queiroz. São inspirações de Praga. Há qualquer coisas naquela cidade - e não é só o Kafka - que dá vontade de escrever, de criar. Deixei-a quando já me sentia em casa ao acordar todos os dias com vista para o Castelo de Praga e ao passar pela ponte Carlos ao final da tarde. Praga é relaxante... inspira. Nutro por ela o oposto do que Kakfa sentia. Não lhe encontro a prisão que ele falava, mas já lá vão uns bons anos. Praga tem os monumentos, as igrejas e os edifícios imperiais; tem a vantagem de estar no centro da Europa e ser um acumular de história(s); tem o rio onde pequenas ilhas são usadas para passar tardes a ler ou simplesmente a contemplar a ponte Carlos com as suas estátuas fantasmagóricas; tem parques e jardins para todos os estados de espírito; tem cafés para todos os apetites e a preços acessíveis. Se fosse mais perto passava lá todos os fins-de-semana. Como se fosse uma casa de férias. 

PS: consegui aprender a dizer mais algumas palavras em checo: dobri den: bom dia! ahoj: olá!... 

17.8.09

Praga: primeiras impressões técnicas

1. Não se percebe nada de nada de checo, as pessoas falam pouco inglês, mas entendemo-nos todos, nem que seja com um sorriso, linguagem gestual ou simplesmente falando numa mistura de várias línguas. Curioso como a senhora do guichet dos bilhetes para o autocarro e metro sabia falar em italiano, espanhol, francês e alemão, mas não em inglês... ou português, já agora. Sai uma explicação em espanhol, sff. 

2. Dos idiomas às nacionalidades é um pulinho. Há quase tantos italianos como checos a passear em Praga. Não tenho nada contra, tirando o facto de que isso faz com que haja muito mais gajas giras do que o normal. Desmoraliza qualquer um(a). 

3. As coisas são baratas. Um jantar para dois com sobremesa e tudo ficou por 20 euros e subir a uma torre ficou num miserável euro e meio, para dois. Se continuar assim, visito tudo o que há para ver e subo a todas as torres. E há uma carrada delas aqui.  

4. Ainda não consegui aprender a dizer obrigado ou por favor/com licença (os acentos marados e a fonética complicam tudo), mas já sei que água é voda, água sem gás é neperlivá e com gás perlivá. Nunca estive tanto tempo para comprar água!

5. Estiveram 29 graus hoje e para amanhã repete-se a dose. Só na terça começa a descer e mesmo assim continua calor. Parece que não saí de Lisboa... Ainda bem :)

6. E às vezes parece mesmo. No local certo, com o ângulo certo, as ruas estreitas, os prédios baixos e tortos, os telhados e os candeeiros de rua empoleirados nas fachadas fazem mesmo lembrar Lisboa antiga. 

7. Visita obrigatória: museu do Kafka e o museu do chocolate (claro!). nem quero imaginar a loja de souvenirs do último! 

16.8.09

Praga

De uma sala de paredes vermelhas para um quarto em tons de vermelho no último andar de um hotel de Praga. Parece irrisório, mas a verdade é que dá uma sensação de conforto. Hotel moderno e acolhedor com uma vista maravilhosa, de onde se consegue ver o pôr do sol sobre o Castelo ou Palácio de Praga (seja o que for, é um colossal conjunto de igrejas e palácios onde vou amanhã) e com um terraço no topo, ideal para descansar ao fim da tarde. Além disso está perto de tudo, o que não é difícil. Praga não é uma cidade grande, tem é muito para ver. Castelos; igrejas; catedrais; edifícios de design e arquitectura moderna paredes meias com edifícios antigos de fachadas apalaçadas e esculpidas; cafés e restaurantes à beira rio; salas de ópera de séculos anteriores, carregadas de dourados e azuis fortes, imponentes e trabalhadas ao pormenor; inúmeras lojas de marionetas (e como eu gosto e marionetas!) e de brinquedos; pontes e bancos de jardim à beira rio... Há qualquer coisa nas cidades atravessadas por rios. Cidades em que o rio não separa uma realidade de outra como acontece em Lisboa, mas onde existe uma continuidade, como aqui, em Amsterdão ou Istambul... E depois existe uma paz, uma sensação de calma junto a estes edifícios cheios de história, como se nos mandassem calar quando passamos ao pé deles e ficar em silêncio a ouvir apenas o burburinho das ruas ou a música vinda dos cafés...


Para primeiro dia, as impressões são muito boas...

3.8.09

Três meses

Os Jane's Addiction têm uma canção chamada "Three Days". Eu tenho um post de blog sobre os últimos 3 meses: 

Maio: Um dedo cortado curado com quatro pontos e o carro espatifado por um acidente alheio quanto estacionado arrancam o mês. De resto, encaro a minha “nova profissão” com um misto de irritação e desânimo. Pelo caminho vou a Barcelona passar um fim de semana prolongado para espairecer. Escolho um jantar numa das melhores cidades do mundo a um concerto dos Sonic Youth sem pestanejar e sem sentir remorsos. Descanso, mas infelizmente tenho de voltar. 

Junho: No trabalho continuo contrariada, mas sempre perfeccionista. Tenho um novo lugar físico e isolo-me. Como objectivo para este mês tenho apenas um: The Dead Weather em Londres, dia 24. O Jack White não consegue fazer coisas más e esteve um dia de sol maravilhoso em Londres. O resto do mês foi passado a tentar aproveitar melhor aquilo que realmente interessa.

Julho: Mês ocupado. Um fim de semana num resort de cinco estrelas. Sol, calor, piscina, praia e um jantar agradável. Uns dias depois, uma rapidinha de 3 dias a Joanesburgo, quase sem dormir, mas suficiente para ver o melhor nascer e pôr do sol que alguma vez vi. Não há sol e cores como às de África. Do Inverno de quente do outro hemisfério ao Verão chuvoso de Londres foi um pulinho, desta vez para ver NIN e Jane’s Addiction. Ainda tenho os detalhes todos desse dia na minha cabeça e tanto já aconteceu entretanto. Ouvi o “Jane Says” e ainda me custa a acreditar que estava lá. Houve ainda David Mathew’s Band no Alive e os Killers no Super Rock. Um acidente de automóvel com capotamento e um concerto de Leonard Cohen tão intenso para o qual não estava emocionalmente preparada. E assim tenho sobrevivido aos azares dos últimos 7 meses de 2009, com muita música e tanta, mas tanta sorte que só pode haver uma série de anjos a olhar por mim.  

Entretanto [2]

Não vale a pena tentar ressuscitar este blog e transforma-lo num espaço activo e dinâmico porque nunca o será. A minha criatividade literária tem vivido de uma preguiça constante por estar demasiado ligada aos meus estados de espírito. Não quero isto dizer que quando estou alegre consigo escrever e quando estou triste não. Nada disso. Tem mais a ver com a apatia e falta de capacidade e encarar certas situações da vida. E é por isso que não se passa nada aqui no estaminé. Apesar de ter milhares de ideias e pensamentos que aqui encaixavam tão bem, nunca os consegui transformar em palavras. Escrever passou a ser uma missão puramente profissional. Mas agora que começo a encarar melhor algumas situações e a perspectivá-las de outra forma, apercebo-me do quanto aprendi sobre mim nestes últimos meses e que mais vale sair desta apatia literária e, mais uma vez, trazer este blog de volta à acção, mesmo que pouca, alguma é melhor que nenhuma...

PS: ver post seguinte