23.7.07

Barcelona [3]

A cidade começa a fazer parte de mim. Estar lá é já um prolongamento de estar em Lisboa. Como ir à praia ou jantar fora. Foi "um" fim-de-semana específico e "um" concerto que me levaram lá. Mês e meio depois de lá ter estado a saborear a Primavera espanhola, regresso para cheirar o Verão catalão. Temperatura amena para o estio de Barcelona, chinelos nos pés, saias curtas e a liberdade característica da cidade foram as condições perfeitas para aproveitar a cidade, não para visitá-la. Para dormir até tarde se me apetecesse, para passear calmamente pelas ruas por onde já passei, para entrar nas mesmas lojas. Para dizer "boa noite, até para o ano" ao senhor do restaurante italiano nas Ramblas. Era o mesmo empregado do ano anterior. No mesmo fim-de-semana específico e por causa de um concerto. Minto, dessa vez foram vários. O Verão catalão estava recheado de bons concertos, mas a vontade de te aproveitar (à cidade e a ti) falaram mais alto que bandas repetidas e outras desconhecidas. Safaram-se os Gossip de fugida. A sério a sério, só mesmo os Arcade Fire, a escassos metros do palco (com vista privilegiada foi bem melhor que o SBSR), a P.J. Harvey na sua versão 2007, ao piano ou sozinha, só com uma guitarra e as velas (pena a tenda suada e os espanhóis tagarelas), e os !!!. Ah, o Nic Offer! Mas a sério a sério, só mesmo Barcelona e tu.

65º andar

A vista do 65º andar do Rockefeller Center é brutal. De um lado o Central Park, tão alto mas tão perto, e do outro o Empire State, quase à mesma altura. Esteve atrás de mim enquanto um senhor engravatado falava. Não olhei para ele uma única vez e só me apercebi quando o senhor acabou o seu discurso. De tão imponente, fiquei com receio de olhar de novo. Foi a minha última vista de Nova Iorque, horas antes de escrever e enviar um texto, de ir a correr à Virgin comprar o acabado de sair álbum de Interpol, de passar pelo Starbucks, para um último adeus e uma chocolate chip cookie, e de apanhar um táxi em direcção a Newark. "Hello gorgeous", foi assim que o taxista que me cumprimentou. Gostei. Soube a despedida e a uma eterna vontade de regressar. Desta vez contigo.

Um jantar com o Marilyn Manson

Segunda-feira, 9 de Julho, começou cedo. Às 8h da manhã já o autocarro nos levava em direcção ao aeroporto de Terterboro, só para voos executivos (por favor, não tirem daqui ideias!). Um problema no ar condicionado do avião fez-nos esperar hora e meia para levantar voo em direcção ao estado do Illinois, onde, ao que parece (e de facto é verdade) faz mais calor que em Nova Iorque e muito provavelmente que em todo o estado de Nova Iorque. Um calor de trovoada que deu lugar a chuva passageira de pingos grossos. Um almoço barbecue e os sotaques muito carregados fizeram-me lembrar da América profunda. A dos valores familiares, do Bush, dos republicanos, do milho doce, do puré de batata e das ervilhas acompanhados de leite à refeição. Porque é mesmo igual aos filmes. Engraçado como cada Estado norte-americano consegue ser tão diferente um do outro. Connectticut é mais arejado, mais frio, mais intelectual. O Maine é rural e marítimo, com uma tradição de peixe que nos faz, a nós portugueses, deitar as mãos à cabeça. Washington, o Estado, é chuvoso e algo despreocupado. Nova Iorque, também o Estado, é... eclético. Illinois, pelo menos o interior, é provinciano, americano profundo e muito ligado à cultura negra. Não fosse a "capital" Chicago. Mas não foi para lhe perceber as diferenças que o visitei. Foi para ver um parque eólico, que à americana, tinha de ser grande. Muito grande. Gostei de ver os modernos moinhos sobressair nos imensos campos de milho. O dia acabou longe de Chicago e no Megu, um restaurante japonês em pleno coração alternativo de NYC, onde confortavelmente jantava o Marilyn Manson. Não jantei com ele, claro. Mas partilhei o restaurante.

Nova Iorque

Estive na minha cidade de Inverno em pleno Verão. Calor insuportável. Húmido. De cortar a respiração. Parti a 7 do 7 de 2007 para a minha sétima visita. Curioso. Fui em trabalho, algo nervosa, e numa perpectiva nova em relação à cidade estrangeira onde mais vezes fui. Passei pelo controle como se já conhecesse o padrão das alcatifas, olhei para o Empire State Building lá bem ao fundo e senti-me como se o visse pela primeira vez (impressiona-me sempre), só liguei o telemóvel quando cheguei ao bafo da rua (para evitar confrontos desnecessários com mulheres polícia), e matei logo saudades do Starbucks. A entrada na cidade foi calma, com pouco trânsito e um ligeiro cansaço misturado com uma vontade enorme de passear naquelas ruas sujas. O hotel, que fazia esquina com a Times Square, tinha vista directa para a lgigantesca loja dos M&M´s. Mas resisti a não me encher de drageias de chocolate de todas as cores assim que lá entrei. Do meu quarto, no baixinho 11º andar, tinha vista para a Virgin e para todas aquelas luzes. Às 4 da manha ainda parecia de dia lá fora. Mas foi graças a essa vista que vi pela primeira vez, às 7 da manhã de segunda-feira, a Times Square despida, sem vivalma e sem luzes. Dos quatro dias que lá estive, apenas deu para aproveitar a cidade no Domingo. Caminhei pelo meio da 6ª Avenida, cortada ao trânsito por causa de uma feira, até à novíssima loja da Apple. Aquele cubo transparente com vista para o Central Park. Passei mesmo à frente da porta do Plaza. O hotel do "Sozinho em Casa II", que agora está a ser transformado num condomínio de luxo, desci a 5ª até ao Empire State, olhei para cima como se nunca tivesse feito e apanhei o metro na 33th street com a Park Avenue, a rua onde vive a Charlotte do "Sexo e a Cidade". Saio no Soho em direcção à Other Music e passo pela sala de espectáculos onde nesse mesmo dia tocariam os Cinematic Orchestra que tanto querias ver. Estava esgotado... menos mal. Soho, Chinatown, muitas malas e um perfume a 18 euros, perdão, 25 dólares, depois, vou em direcção ao Ground Zero. Está diferente, mas continua a ser um assombro. Já nem me lembro de como era aquela zona com as torres. Engraçado como tudo em Nova Iorque nos remete para um filme ou um acontecimento. Alguém me falou disso. É verdade. Antes de lá ter ido já a conhecia. E agora, cada vez que lá vou, é como se vivesse lá temporariamente. Já estou com saudades de novo.

6.7.07

Último dia

É hoje o meu último dia de férias. Se é que posso chamar estes nove dias úteis de férias. As preocupações jornaleiras não me largaram por um segundo. Ok, talvez enquanto estava a ver os Arcade Fire ou os Interpol, ou enquanto saltava e gritava repetidamente e baixinho (para não ouvirem a minha voz) a expressão "Yeah!" a som de uma batida em crescendo alucinante. Mas mesmo assim... Nova Iorque, o desejo de estar lá, mas a vontade de não ir, foram uma constante estas quase duas semanas de quase praia e descanso. Se a mente não descansa não vale de nada. Quero que seja quarta-feira rapidamente para poder estar de volta, sã e salva, com a sensação de dever cumprido. E para poder disfrutar o pouco que me resta da vossa tão inesperada companhia e para poder saborear o fim-de-semana sem uma directa em cima do corpo. Foi preciso chegar aqui, ao último dia, para colocar tudo isto para trás e aproveitar. Foi preciso chegar ao último dia das minhas férias lisboetas para, finalmente, me sentir esclarecida. Lúcida. Concentrada como uns Interpol em cima de um palco enorme. Também eles chegaram no último dia de mais um dos muitos festivais da minha vida. O balanço não é muito positivo. Dos três dias a que assisti apenas sobressairam quatro bandas. Estarei a ficar mais exigente?! Ainda assim, comprei uma t-shirt de TV on The Radio e estreei-me perante os melancólicos Interpol. Melancólicos mas bons. Pensando melhor, muito bons. São as guitarras que me matam... E LCD Sounsystem. Nunca poderia terminar as minhas férias sem fazer uma referência a esse obcecado senhor que é o James Murphy. Não pára quieto um segundo, assegurando que tudo está bem montado. É Nova Iorque que não me larga. A Nova Iorque dos LCD Soundsystem, dos Interpol, da 5th Avenue, da Broadway, da Times Square, da Hershey´s, da Virgin, da Other Music, do Ground Zero, do Empire State, do Central Park, do MoMa, das caminhadas infidáveis pelas avenidas, da... sei lá! "New York I love you, but you bringing me down"... faço minhas as tuas palavras. Amanhã por esta hora já lá estou.

4.7.07

"Haiti"

Já me tinha esquecido de como os Arcade Fire são bons. Perdão, muito bons. Se em Paredes de Coura me tinham convencido disso, com um concerto descontraído (que envolveu percussão num capacete e um mergulho no público!), no Super Rock voltaram a ser descontraídos mas ainda mais profissionais. Consequência do passar dos anos, dizem. Foi uma hora e meia verdadeiramente dignificante, quase sagrada. Agora só falta mesmo vê-los numa sala fechada com uma acústica que não a de festival. Depois de Pearl Jam e White Stripes no Alive... começo a gostar dos festivais portugueses deste ano!

PS: "Haiti" foi, se não me engano, o terceiro tema do concerto de ontem e é o oitavo do primeiro álbum. Ou como a "aparente" simplicidade pode ser muito bonita.