25.8.08

A cidade do pecado e a cidade da paz e do amor

Apenas uma hora de avião separa Las Vegas de São Francisco. Apenas uma hora nos separa de uns abafados 44 graus de uns enublados 20. Num momento estamos numa cidade que verdadeiramente nunca dorme e no outro estamos numa que adormece e acorda cedo. Mas é na diferença, tão próxima, que está a piada dos Estados Unidos. 

Do Grand Canyon a Las Vegas foram sensivelmente 4.30h de carro. Estradas vazias e intermináveis, paisagens desertas de terra avermelhada, uma vegetação áspera que nos arranha a pele só de olhar e uma imensidão constante. Árida, seca. Saímos cedo para fugir ao calor, mas depois de duas horas de viagem, ainda só eram 9.30 da manhã, o sol começou a apertar. Se o Arizona é um dos estados mais quentes dos Estados Unidos, o Nevada também deve ser. 44 graus e ainda não era meio-dia. Insuportável calor. De cortar a respiração. A passagem pela Hoover Dam foi dolorosa e abafada. E sem darmos por isso estávamos no Nevada e o calor apertava ainda mais. Cinco minutos depois da tabuleta a indicar "Welcome to Nevada" estava um casino. Literalmente no meio do nada. Não há nada - ou praticamente nada - à volta de Las Vegas. Só deserto. Vegas é uma espécie de oásis onde se vai à procura de diversão e de sorte. Aquilo que se conhece da televisão é aquilo que ela é. Mas com pulso é outra sensação. Uma cidade que na prática é uma rua de hotéis gigantescos com três mil quartos com casinos, imitações de monumentos, capelas e piscinas estilo resort, com palmeiras e cascatas de água. Subsiste o falso, a luz, a imitação, o abstrair da realidade. Por isso é que o que por lá acontece, por lá fica. 

Em São Francisco o que lá aconteceu espalhou-se e teve um significado. Mas a São Francisco de hoje não era bem o que estava à espera (perdoa-me R.). Talvez seja errado fazer a inevitável comparação com Nova Iorque. Falamos de duas realidades totalmente diferentes. São Francisco é pacata e residencial. Permanece uma paz e uma ligeireza que se assemelham a estar no campo. A primeira impressão foi terrível. Inúmeros vagabundos, errantes e lunáticos passevam-se nas ruas, mas sem incomodar ninguém. Habituámos-nos a eles. Há qualquer coisa nas cidades viradas para o Pacífico. Seattle também tinha uma aura estranha. Decidi dar uma segunda oportunidade e acabei por me surpreender. Afinal, havia mais que os vagabundos na rua. São Francisco tem qualquer coisa de passado, como se ainda ali existisse a paz e o amor, o LSD e a beat generation. Passei pela casa do Jimmi Hendrix e estive na rua onde tudo aconteceu. Onde a Janis Joplin, o Jimmi Hendrix ou os Grateful Dead se juntavam para fumar erva e fazer música. Infelizmente, e por desconhecimento, não consegui ir ao bairro da beat generation, onde Kerouac terá escrito alguns dos seus conhecidos livros. Também me falhou Alcatraz (bilhetes esgotados para uma semana!!!). Mas não falhou o passeio na Golden Gate, com um frio e uma ventania irritante. São parecidas, as pontes. A msma cor e arquitectura, mas a Golden Gate é mais baixa que a 25 de Abril... e por falar em comparações. De São Francisco segui para Nova Iorque. Para ver se ainda estava na mesma...

Objectivo de vida

Era um objectivo de vida. Gosto de o dizer no passado. O H. acha que é um exagero, mas eu não consigo arranjar outra forma de identificar o que significava para mim ir ao Grand Canyon. E agora está cumprido. Infelizmente, ou felizmente - acho eu - é pouco o que tenho a dizer sobre o Grand Canyon. Não por falta de vontade ou de sensações para expressar, mas simplesmente porque não consigo. Mesmo sendo a escrita o meu ganha-pão. Não palavras para o descrever. Não há fotografias que lhe consigam transmitir a grandiosidade e envolvência. É preciso ir lá. E acima de tudo, é preciso estar lá, em silêncio. O Grand Canyon fez-me tanto de bem como de mal. É o que dá pensar tanto...  

PS: foto em breve

20.8.08

4.00 da manhã

Esta é por norma a hora a que me deito todos os dias. Tenha ou não de me levantar cedo ou muito cedo. Não o consigo evitar por mais sono que tenha. Há quem lhe chame insónias. Eu não sei o que lhe chamar. Sei apenas que foi a esta hora que a minha aventura norte-americana começou. O avião para Flagstaff, com escala em Phoenix, partia de Hartford às 6.30h. Com a diferença horária cheguei a Phoenix às 8 e picos da manhã. Dormi as cinco horas que demorou a chegar à capital do Arizona. Vi-a de cima, apenas, e senti-lhe os 44 graus de calor sufocante quando sai para apanhar a avioneta que nos levou a Flagstaff, uma pequena cidade do interior do Arizona, a cerca de uma hora e pouco do Grand Canyon. A viagem até Flagstaff demorou 40 minutos se tanto, mas eu só queria que ela acabasse. O avião tremia por todos os lados e fazia um barulho insurcedor. E voava baixinho, baixinho... 

Do avião para o carro foi um instantinho. Alugámos um carro normal e saiu-nos na rifa um descapotável. Um Chrysler branco ao qual não tirámos fotografia (uma estupidez!) e que andou quase sempre com a capota para cima. Muito vento, muito calor, as malas a descoberto... tudo razões para quem não está habituado a estes luxos. Mas afinal, iamos a Las Vegas e em Vegas um descapotável fica sempre bem. A sugestão foi do empregado do rent-a-car que era fã da selecção de Portugal e, imagine-se (ironia), do Ronaldo. 

Lá fomos nós no descapotácel branco, muito americano, até Williams, onde iamos passar a noite. Uma vila pacata a uma hora do Grand Canyon e por onde passa um pedaço da route 66, antes a mãe de todas as estradas norte-americanas e hoje uma atracção turística estrelhaçada e distribuída por vários estados. Williams, Arizona não podia ser mais típica. Típica cidade turística, que vive do Grand Canyon e da route 66. Típica cidade de cowboys e de índios (aliás, chegámos mesmo a ver gajos vestidos de cowboys, com coldre e arma. the works!). Típica cidade de passagem e de estrada, quase fantasma e parada no tempo, onde ainda se respiram os anos 50 e 60 nas placas dos motéis, nas bombas de gasolina e nos carros. Choveu a tarde toda apesar do calor. Nesse dia, que tinha ganho três horas em relação ao ponto de partida, deitei-me as 10 da noite. Imagine-se...

"New York I love you, but you´re bringing me down"

Nova Iorque em Agosto é o caos. Demasiados turistas que páram no meio da rua sem razão aparente. No topo do Rockefeller Center, que agora já se pode visitar, acotovelamo-nos para ver o Empire State ao longe. No Central Park desesperamos por um banco de jardim, no Guggenheim há fila para a casa de banho e na Brooklin Bridge os turistas misturam-se com os nova-iorquinos que atravessam a ponte a pé todos os dias - ou para trabalhar ou para simplesmente manter a forma. 

Parou de chover, recomeçou de novo e parou de novo. Nova Iorque não cheira a chuva como cheira Lisboa depois de uma chuvada de Verão. Nova Iorque mexe-se tanto que não tempo tempo para esses sentimentalismos. Seca rápido e quando damos por nós, já está sol outra vez. Foi assim nos três dias que lá estivémos. O último dia - 13 de Agosto - começou com uma dor de dentes, mais precisamente um ligeiro abcesso. Não sei se foi do comprido que tomei, se da emoção da despedida, mas quando dei por mim, já a dor tinha passado. Vi Nova Iorque afastar-se enquanto estava no comboio para o aeroporto. Estará diferente quando voltar? Estarei eu diferente quando lá regressar? Sei que vim diferente de toda esta aventura e que ainda me custa escrevê-la. Só sei que parou de chover. 

11.8.08

2.08-11.08

Como já se percebeu só hoje voltei a ter um computador e ainda por cima um com teclado português. Entre o dia 2 de Agosto e hoje aconteceu muita coisa nesta aventura norte-americana. Estive em seis estados diferentes, andei por dois deles num descapotável branco quase sempre com a capota para cima, passei de 44 graus para os 15 em apenas uma viagem de avião de uma hora, descobri que a California é o estado americano mais caro e que o Arizona deve ser o mais quente. Apanhei um escaldão que se transformou em bronze (inacreditável, eu sei!) e concretizei um dos objectivos de vida. 

Entretanto o dólar subiu, começaram os jogos olímpicos E eu não vi a cerimónia de abertura), matei as saudades dos brownies e do Starbucks, a Rússia voltou aos anos 80 e decidiu invadir a Geórgia, e os EUA têm uma 'Maddie' - uma menina de três anos que desapareceu há não sei quanto tempo e que tem feito as manchetes de vários jornais. Ah, e além disso, e para não variar, morreram mais dois americanos famosos durante a minha estada. Começa a tornar-se um hábito morrer alguém importante de cada vez que cá venho. Em 1996 (a primeira vez) foi o teclista dos Smashing Pumpkins, em 2003 foi o Johnny Cash e agora o Bernie Mac e o Isaac Hayes. As 'pivot' da CNN estão de preto. 

A chuva está a abrandar, mas parece que vai continuar durante as próximas horas (diz a CNN). A coisa não está fácil...

  

So NYC... ou não!

Nova Iorque já parece como uma casa de férias para onde vamos todos os anos, ou pelo menos quase todos. E hoje, em pleno mês de Agosto, em vez de um sol radiante e um calor abrasador recebe-me uma trovoada assustadora, um céu escuro como breu e uma bela chuvada. Que fazer em Nova Iorque à chuva? É muito chato estar aqui dois dias e meio e no primeiro estar a chover torrencialmente. E principalmente quando a minha aventura norte-americana entrou na sua recta final e é suposto queimar os últimos cartuchos. A trovoada continua e pelos barulhos que oiço na janela está a cair granizo. Estou a começar a ficar muito chateada com isto...

2.8.08

Ferias

Nota previa: estou num teclado sem acentos e sem letas estranhas como o c com cedilha ou o til.

As ferias oficiais comecaram quinta-feira as 7 da manha, mas a serio a serio, as ferias comecaram quando a senhora da imigracao no aeroporto me disse. "Enjoy your stay". De Nova Iorque, nesse dia, vi apenas a Grand Central Station. Continua agitada. Um misto entre a calmaria de um turista e o stress do nova-iorquino. Entrei, comprei um bilhete de comboio e quando dei por mim ja estava a caminho de New Haven. Nova Iorque, agora so no dia 10 de Agosto.

20 horas depois de ter saido de Lisboa chego finalmente ao meu destino - Depois de uma passagem por Londres; de um longo passeio pelo novo Terminal 5; de seis horas de um voo que pareceu de dez, mas no qual tive a companhia do sir Paul Mcartney; de uma desesperante corrida de taxi conduzida por um homem de turbante; de uma viagem de comboio de duas horas e de ainda mais uma de 45 minutos de carro.

Hoje comeca a maratona pelos estados americanos. De Connecticut para o Arizona, daqui para o Nevada, California, de volta ao Connecticut e por fim Nova Iorque, a cidade e o estado. Ah, e ainda uma breve passagem pelo Minnesota. Dentro de poucas horas parto com destino a Flagstaff, com escala em Phoenix. A noite e passada em Williams, a 120 quilometros do Grand Canyon. E mais nao preciso de dizer. Regresso quando tiver um computador e imagens mentais de areia vermelha e grandes montanhas para transformar em palavras.