12.7.10

A vida devia ser um festival!

Quando o Eddie Vedder disse que o concerto do Alive não era o último de sempre, mas o último durante muito tempo, as 45 mil pessoas em frente ao palco não reagiram. Não havia braços no ar nem se ouviram assobios. Nada. Apenas silêncio e imobilidade. Eu estava em bicos dos pés -constantemente a lembrar-me que as aulas de ballet e dança jazz e os exercícios em meia ponta tinham uma aplicação real - e por momentos vi claramente o palco. Eddie Vedder tinha conseguido calar 45 mil almas, algumas das quais respiram Pearl Jam há mais do que se conseguem lembrar. E por muito mais que ele dissesse depois que não voltar aos placos tão cedo era uma coisa boa porque assim nos iamos divertir, ficou sempre a sensação de despedida. Chamem-lhe intuição feminina, chamem-lhe sete concertos de Pearl Jam e uma vida inteira de dedicação, mas assim que soaram os primeiros acordes de "Release" senti que aquele era um concerto de despedida. E quanto mais canções calmas eles tocavam mais certeza tinha. Creio que foi o concerto de Pearl Jam em que ouvi mais temas calmos: Nothingman, Betterman; Elderly Woman..., Release, Just Breathe, Black... as mais agressivas não estavam lá. Mas não entremos por aí. Pelas que faltaram. Porque faltaram muitas. Eu queria os Pearl Jam na minha sala até terem tocado tudo o que havia para tocar. Até os lados b pirata que tenho lá em casa. Não vai acontecer, eu sei, mas podemos sempre sonhar. O mais perto que estive disso foi no Dramático de Cascais. Eu e mais 4.499 pessoas. Incrível como, em 14 anos, passamos das 4.500 (em duas vezes, é verdade) para as 45 mil pessoas. Mas adiante. O silêncio deu lugar a coros, a ovações a braços no ar que me tapavam a visão mesmo em bicos dos pés. E depois ainda tocaram uns temas mais expressivos, como o Even Flow ou o Once. E ficou tudo feliz. Muito feliz. Agora é esperar que regressem. Porque a esperança é a última a morrer. E digo eu, que sou muito pessimista.

Para muitos, o Alive eram os Pearl Jam, mas o festival foi bem mais do que isso. Teve mais boa música junta que muitos e foi o único festival (português) onde os palcos secundários foram quase um palco principal. Só não caiu a tenda, porque estava bem presa, mas abanou e bem. The XX ou Gossip a rebentar pelas costuras (espero que já tenham percebido que Gossip já não é uma banda de palco secundário!) e o Tigerman a encher a pista de dança lá do sítio, inconformado com a rebaldaria sonora dos Gogol Bordello que lhe entrava pela tenda adentro. Para o ano queremos Tigerman no palco principal. Fazia mais vista que os Biffy Clyro. Para mim, o festival teve ainda Faith no More e Deftones. Os primeiros surpreendem-me sempre. É que o Mike Patton é um camaleão e há 20 anos ninguém diria que aquele gajo de cabelo desgrenhado se iria transformar num senhor de classe e fato branco. Os Deftones, junto-os ao top 5 de bandas favoritas e por issso fui lá para a frente, para perto da segunda grade - onde não havia mosh, mas havia pulso. O meu pescoço já sobrevive ao 'headbanging' e por baixo havia um tapete de relva artificial que me deixava saltar à vontade, sem levantar pó. Perfeito. E, tal como em Pearl Jam, consegui ter o meu momento sozinha-no meio-de-milhares-de-pessoas. Nota final. LCD Soundsystem podia ter sido melhor. Já vi melhor. Muito melhor.

Com isto tudo, começo a achar que a vida devia ser um festival!

17.6.10

Guernica

E por falar em detalhes, desta vez decidi ir ao Reina Sofia. É um museu mais ao meu estilo. Estão lá os modernos todos, os surrealistas, cubistas e afins. E agora está lá o Guernica. Já sabia que o quadro era grande e não uma Monalisa, e apesar de ajudar, a expectativa nem era tanto pela dimensão do quadro.

O Guernica é uma espécie de Grande Canyon da pintura. Não há muitas palavras para o definir. E não, não gosto de tudo o que Picasso faz. Mas há qualquer coisa neste quadro que mexe comigo. Talvez a história que conta, aliada às expressões – ainda que geométricas – das figuras. Não sei. Só sei que não queria vir embora. Queria ficar naquela sala o resto do dia, até o museu fechar e voltar no dia seguinte para ver de novo. Para ver todos os dias. É o mesmo efeito do 'The Boulevard Montmartre at Night' do Pissaro.

O problema eram as pernas. Naquela sala não há bancos ou cadeiras, sem ser as dos dois seguranças, uma de cada lado do quadro. Tavez para as pessoas não ficarem ali eternidades e se dar oportunidade a outros. Em frente ao Guernica há um corropio imenso. Não se podem tirar fotografias de dentro da sala, só de fora (go figure!) e há um limite até onde nos podemos aproximar do quadro. A mim bastava-me um banco, no cantinho da sala, sem ninguém me ver.

Depois do Guernica, viemos embora. Queria guardar aquela imagem na memória durante algum tempo e não distraí-la com qualquer coisa. Porque são os detalhes que realmente importam...

13.6.10

'Details'

Madrid já tinha caído nas minhas graças e acho que foi por causa dos pormenores. Aquelas janelinhas geométricas dos edifícios antigos que fazem lembrar o tempo do Zorro; os detalhes das varandas, fachadas e portas; a forma como o deboche da Chueca e da Calle Hortaleza se mistura na imponência quase real da Gran Via; as antigas salas de cinema, algumas delas recuperadas; as arejadas lojas das melhores marcas, seguidas umas às outras, e a pedirem-nos para entrar… São centenas de pormenores impossíveis de ver todos de uma vez.

Desta vez, Madrid tornou-se especial. E não foi por causa dos concertos. Ou pelo menos, não foi só por causa disso. Sim, os concertos foram excelentes. Tudo o que queria ver e ouvir. Mas antes disso houve aquele fim de tarde na grandiosa Plaza Mayor, entretida a ver o aparato dos casamentos que se realizavam no Civil e os mascarados a fazer palhaçadas em troca de uma moeda.

Foram pelo menos três os casais que assinaram os papéis naquela hora. Já passava das 19h30 e vestiam a rigor. Elas de vestido branco ou beje (sem ser de noiva), eles de fato escuro e os convidados de echarpes e sapatos envernizados. Mas tudo simples e com bom gosto. Pergunto-me como conseguiam elas andar naquela calçada com saltos tão altos. Naquele dia – quinta-feira – foram 17 os casamentos realizados no Civil de Madrid. Parece que é assim todas as segundas quintas-feira do mês. Bastam 20 minutos e já está.

Mascarados, apenas dois restavam àquela hora. Um Zorro com um carrinho de compras de onde saía a cabeça de uma boneca, qual freak show, e um Homem Aranha de barriga proeminente e fato esfolado do tempo. A piada estava no desleixo.

A Madrid só lhe falta estar perto do mar, como Barcelona, mas assim não seria Madrid… seria Barcelona!

Madrid me encanta

Está na hora de ressuscitar este blog. Não será por muito tempo. Confesso que ando ocupada com outras coisas que não são trabalho e que por isso dão bastante gozo à minha vida. Mas a curta viagem a Madrid, entre 10 e 12 de Junho, justifica que dê vida ao blog. Afinal, foi a primeira viagem (para fora) do ano. 

O objectivo era claro: Começou por ser ir ver Rage Against The Machine ao Rock in Rio Madrid. Compraram-se os bilhetes de avião a um preço absurdo de tão bom - 35 euros ida e volta por pessoa. Alguns meses depois, os Jane's Addiction ocupam o lugar vazio no cartaz do palco principal. E tudo mudou. Ir a Madrid passou a ser a minha oportunidade para corrigir o erro idiota (não há outro nome) de ter perdido uns 20 minutos do concerto de Jane's Addiction na primeira parte de NIN o ano passado em Londres. Uma viagem que tinha feito de propósito para os ver. 

Estava decidido que desta vez seria diferente e que chegaria mais do que a horas para me preparar fisica e psicologicamente para ver (rever) as teatrices de Perry Pharel e seus amigos. RATM passaria assim para segundo plano, em importância, não em entusiasmo. A minha dúvida era mais em saber como iria sobreviver ao concerto depois da experiência no Alive há dois anos em que tive de ser puxada da multidão. 

Uns meses mais tarde, a viagem a Madrid tornou-se ainda na possibilidade de descansar (mais a mente que o corpo) depois de uns primeiros seis meses desgatantes. Ainda que fossem apenas dois dias e meio. E depois seria voltar a Madrid. Uma cidade pela qual me apaixonei inesperadamente e que cada vez vou gostando mais. No me gusta... me encanta! 




 




15.10.09

Sons e imagens...

A música de fundo no carro no regresso da Disneyland para Los Angeles. Os prédios altos do centro já iluminados e as palmeiras definidas no céu quase quase cor da noite....

Crash into me...


13.10.09

Hollywood!

Do fim de uma viagem para o início de outra, algumas impressões de Los Angeles que amanhã (aqui é quase uma da mnahã) tenho de acordar de madrugada! 

1. Los Angeles não é uma cidade bonita. Avenidas largas sem fim, com pouco passeio, muita estrada e muitos muitos carros. Fica tudo muito espantado quando dizemos que não temos carro! 

2. A segunda língua é o espanhol, perdão o 'espanhol latino', whatever! Há empregados nas lojas que não sabem falar inglês!

3. Até os manequins das lojas têm as mamas grandes!

4. A 'Wisteria Lane' existe de verdade, mas é um cenário nos estúdios da Universal e o Motel do 'Psico' também. :)

5. Há uma Zara em frente ao Kodak Theatre, onde se realizam os Óscares e eu imagino o balúrdio que não deve ser a renda.

6. Ainda não percebi o critério ou a organização das estrelas no Passeio da Fama. A Branca de Neve tem uma estrela e o Chuck Norris também. É magia do cinema e da televisão! :)


  

28.8.09

"Tonigth, live at Paradiso..."

Despedi-me de Amesterdão da melhor forma possível. Sim, num concerto. É a minha essência e não vale a pena negar. Deftones, três anos depois da última vez e oito anos depois de uma sala fechada, estavam agora ali, a muitos poucos metros de mim, na pequena e aconchegante sala aue é o Paradiso, uma antiga igreja transformada em sala de espectáculos. Às 20.30h em ponto - hora de Amesterdão - os acordes rasgados e a bateria pesada envergonharam os vitrais da antiga igreja, agora por cima do palco e eu recordei as músicas e voltei atrás no tempo. Numa altura que foi tão importante para mim e para definir o que sou hoje. Quem diria que aquela música barulhenta e que aquele gajo que actua com as calças descaídas iria ter tanto impacto. O concerto foi muito muito bom, apesar de algumas falhas técnicas no som e nas luzes. Mas quem disse que tinha de ser perfeito? Tinha de ser o que foi. Directo, empolgante, libertador, e acima de tudo, importante para mim. As canções soaram-me quase a novo, como se me estivessem a preparar para um novo começo. Foi uma espécie de epifania. Podia ter acontecido enquanto descansava num banquinho de jardim junto a um dos canais de Amesterdão, na ponte Carlos em Praga ou nas portas de Bradenburgo em Berlim, mas foi ali que aconteceu. Ou melhor, foi ali que culminou. Já depois de tanta coisa vista e sentida em dez dias. E esta, ficou a ser a minha música das férias... 

"You move - like I want to
To see - like your eyes do
We are...downstairs
Where no one can see
New life - break away
Tonight...

I feel like more
Tonight i..."


(parte do 'Digital Bath', Deftones)


Amesterdão

Amesterdão é uma cidade de Verão ou Primavera. Aliás, todas as cidades que visitei nos últimos dez dias são. Pareceu-me diferente da cidade que conheci pela primeira vez em Dezembro do ano passado. Está calor, milhares de gente na rua, uma animação nocturna que parece não acabar, e um sol que bate nos canais ao fim da tarde, deixando aquele efeito de mil luzinhas naturais no ar e na retina. Parei numa das pontes a olhar para o canal, para os barcos a passar e para as pontes em frente. Assim vivia aqui. Sem o frio de Inverno. 

Desta vez Amesterdão pareceu-me diferente. Não foi como turista para ver os museus ou ir aos sítios marcados nos livros. Fui para passear e simplesmente "andar por aí" sem rumo ou com rumo decidido enquanto andávamos. Levou-nos ao terraço inclinado do "Nemo" - o museu de ciência - onde almoçamos e apanhei um ligeiro escaldão; levou-nos ao Red Light District numa noite animada de segunda-feira, onde a prostituição convivia de perto com os turistas de meia idade; levou-nos a um cruzamento de duas pequenas estradas junto a um canal, onde confluiam bicicletas, motas, carros e pessoas sem nunca se tocarem. Como num jogo bem jogado. Levou-nos a virar à esquerda quando antes era para virar à direita e como a Alice ir atrás de um "coelho" qualquer. 

Desta vez Amesterdão pareceu-me diferente. Para melhor. Mas eu também já estava diferente quando lá cheguei... 

25.8.09

Recuperar Berlim

Sábado e domingo conseguimos recuperar Berlim. A chuva deu lugar a dois óptimos dias de sol e noites agradáveis, mas sem aquele calor abrasador do primeiro dia, que nos 'matava' ao primeiro quarteirão a pé. Gosto de Berlim. Gosto muito. Gosto das avenidas largas onde os edifícios imperiais e as catedrais de pedra escura se misturam com os prédios novos de arquitectos de renome como Renzo Piano, Jean Nouvel ou Frank Ghery. Berlim é a cidade que, há já 20 anos (desde que o muro caiu), tem vindo a ser renovada e transformada num exemplo de urbanismo, uma espécie de balão de ensaio para arquitectos, onde tudo se conjuga e onde nos sentimos bem. Onde o 'glamour' de uns anos 20 e 30 se junta com a decadência de uma cidade destruída pela guerra e dividida pelas ideologias e com os tons urbanos e sujos dos 'punks', góticos e 'freaks' que povoam a cidade. 

Sábado destruímos as pernas em cerca de seis quilómetros a pé já com umas pechinchas na mão compradas numa loja ao pé de uma das mais extraordinárias igrejas que conheço. É a igreja que substitui - em necessidade - uma outra que foi destruída na 2ª Guerra Mundial. Em necessidade porque o seu formato geométrico e racional e o Jesus Cristo rectilíneo que a 'guarda' nada tem a ver com a igreja imponente e centenária que ali se encontrava.  Domingo saboreámos o último dia pelas ruas que a maratona do Mundial de Atletismo deixou desertas. Descansámos as pernas entre as igrejas da Gendarmenmarkt, dividimos uma fatia de bolo de chocolate no Check Point Charlie e dissemos adeus a Berlim ao anoitecer, com o céu azul quase escuro, sentados na pedra fria em frente às imponentes portas de Bradenburgo a ouvir um concerto grátis de música clássica. 

Momentos mais tarde, já na noite de um novo dia, apanhámos o comboio para Amesterdão, numa viagem de dez horas. Apetece-me voltar a casa, mas não sinto vontade de regressar....